quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Quinze

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com  outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra frente vai ser diferente.



   - Carlos Drummond de Andrade

sábado, 18 de agosto de 2012

Noite










Era interessante. Durante o dia, preenchia aquele vazio com o barulho das pessoas. Durante a noite, o silêncio me trazia toda aquela saudade de volta.

- Qrquestrando

A menina e seu menino

Da janela de seu quarto, ela o via passar. Aquele menino de andar despreocupado, fones de ouvido e all star. Parecia tão forte, tão despreocupado ... E inatingível.
Ela o observou, como sempre fazia a tantos anos. Sem nunca ter dito ou demostrado, ela o amava. 'Só porque ninguém sabe, não quer dizer que não seja verdadeiro', pensava  menina.
Sozinha em sua janela, ela desejou que ele soubesse. Soubesse que havia alguém que o amava. Um desejo tão forte, que a fez sentir dor. É assim, quando desejamos alguém tanto, sem poder ter, dói. Dói muito.
A menina abraçou os joelhos. A umidade em seu olhos escorreu delicadamente pelo rosto, enquanto seu menino virava a esquina.



                                        Valéria Mares

Alguma coisa ausente


Existe sempre alguma coisa ausente.
Acho que a gente tem que vencer.
Ou lutar.
E ficar bem.
Feliz.
Criar.
Fazer.
Se mexer.

- Caio

Não me solte


Toque minhas mãos.
Um pedido simples? Talvez.
Só não me dê promessas vãs;
Preciso do seu toque,
Para meu coração não endurecer.
Toque minhas mãos e me olhe,
Toque minhas mãos e não me solte.



                               Valéria Mares

Dia chuvoso


Outro dia chuvoso;
Outra névoa a cobrir tudo;
Outro frio a envolver meu corpo.
Mais gotas cintilantes carregando lembranças.
Inúmeras dores num peito só,
Melodias me tocando fundo,
Embalando a saudade
Que rodopia ao meu redor.


                                           Valéria Mares



                         

Escrever ...

Resolvi voltar a escrever.
Não pra agradar ninguém ou por sentir falta de alguém, mas para, como disse Lispector, salvar minha própria vida. Para explodir a ira da fera dentro de mim em palavras que percorrem longas estradas e me trazem respostas.
Para não perder minha frágil sanidade.
Ao contrário do que eu mesma pensava, eu não escrevo para ninguém, escrevo para mim. Sempre. Mesmo que não seja a minha intenção. Apesar de terem vida própria, minhas palavras sempre voltam para mim. Elas carregam memórias, sentimentos, dores e lágrimas.
Estava sentindo tanta coisa pesar em mim, que tive a necessidade de escrever. E não posso mais parar. Não. Nunca mais.



                           Valéria Mares