domingo, 1 de março de 2015

Inércia

Era como se uma vertiginosa nuvem de vapor houvesse se dissipado pelos fracos raios de sol que se infiltravam pelo teto do meu quarto cinzento. Era março e cada fibra do meu corpo sentia o outono se aproximando sorrateiramente. Minha pele descamava e minhas unhas quebravam ao menor toque. Os cabelos opacos caíam e eu me sentia uma árvore perdendo suas folhas. Meu peito era um buraco negro sem fim que abrigava apenas as questões de vida e morte que me atormentavam. No fundo eu sabia que não havia resposta, mas minha pele teimava em descamar, sedenta de conhecimento. O mundo era uma enorme floresta de questões e eu era apenas uma árvore perdendo suas folhas com o
outono. Talvez se eu quebrar o princípio da inércia, eu consiga respostas, pensei levantando-me. Preparei um café sem açúcar e me pus a ler pela enésima vez os manuscritos de Newton, pensando em quanta sorte ele teve por obter suas respostas. Talvez nem todas, uma vozinha em minha cabeça sussurrou. A inércia é o flagelo da sociedade contemporânea, ninguém quer se levantar e fazer algo. Talvez precisemos de um impulso, a voz na minha cabeça tornou a dizer. Um impulso era o que eu precisava. Tomei um banho frio, vesti algo confortável e saí para receber meu impulso, a maçã que me traria o conhecimento.





                          Valéria Mares