Era como se uma vertiginosa nuvem de vapor houvesse se dissipado pelos fracos raios de sol que se infiltravam pelo teto do meu quarto cinzento. Era março e cada fibra do meu corpo sentia o outono se aproximando sorrateiramente. Minha pele descamava e minhas unhas quebravam ao menor toque. Os cabelos opacos caíam e eu me sentia uma árvore perdendo suas folhas. Meu peito era um buraco negro sem fim que abrigava apenas as questões de vida e morte que me atormentavam. No fundo eu sabia que não havia resposta, mas minha pele teimava em descamar, sedenta de conhecimento. O mundo era uma enorme floresta de questões e eu era apenas uma árvore perdendo suas folhas com o
outono. Talvez se eu quebrar o princípio da inércia, eu consiga respostas, pensei levantando-me. Preparei um café sem açúcar e me pus a ler pela enésima vez os manuscritos de Newton, pensando em quanta sorte ele teve por obter suas respostas. Talvez nem todas, uma vozinha em minha cabeça sussurrou. A inércia é o flagelo da sociedade contemporânea, ninguém quer se levantar e fazer algo. Talvez precisemos de um impulso, a voz na minha cabeça tornou a dizer. Um impulso era o que eu precisava. Tomei um banho frio, vesti algo confortável e saí para receber meu impulso, a maçã que me traria o conhecimento.
Valéria Mares