sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Anoitecer

O anoitecer é o caos mais ordenado que já vi. Aquela inquietação que não é noite nem dia me fascina. É como a adolescência, nem adulto nem criança. É como se o dia resistisse em morrer. Uma criança teimosa, ele resiste, formando o crepúsculo, o adeus da luz. É uma briga ordenada entre luz e trevas. Duas metades de um todo vital, que por um tempo se apresentam para nos contemplar com esse meio-termo. Eu sou esse meio-termo. Eu sou esse caos ordenado que não é uma coisa nem outra e, no entanto, é tudo. Por isso o anoitecer me fascina, porque se parece comigo. Porque me ajuda a preencher as lacunas de mim mesma e apreciar meu próprio crepúsculo.


        Valéria Mares