terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A beleza e a sensibilidade

Então, ali estava eu: sentada em um banco de uma praça qualquer, embaixo de uma árvore qualquer, num momento de reflexão e tormenta qualquer. O livro em minhas mãos tremia, meu peito cansado estava apertado. Pessoas passavam por mim, ignorando-me completamente. Como não conseguiam ver? Eu estava em choque, um choque de realidade. Será que, como eu pensei, nesse mundo de merda só há pessoas insensíveis? Sim. A resposta rodopiava em minha mente. Eu estava paralisada de pavor. Minha própria antissocialidade é prova disso. Insensibilidade me enoja, não sei viver sem apreciar os detalhes, a beleza... Mas não vejo beleza nas pessoas, nesse amontoado de robôs idiotas e alienados, nesses humanos sem humanidade, nessas cidades lotadas e vazias ao mesmo tempo. É ridiculamente irônico como, quanto mais cheio é um lugar, mais solitárias as pessoas são, menos se importam umas com as outras, mais hipócritas são se considerando "boas pessoas", mas se recusam a ver o quão miserável é o mundo em que vivem, ignoram um mendigo, um pobre cachorro abandonado, ma criança com fome... Não faço parte disso, eu pensei. Será? Não é por ninguém em particular que passei a pensar dessa forma, é simplesmente repulsa pela futilidade humana.

Um movimento ao meu lado me arrancou do torpor de pensamentos. Um rapaz bonito usando uma camisa do Pink Floyd havia se sentado ali e me encarava. "Está tudo bem?" ele perguntou. "Você... você parece estar sofrendo..." Eu estava chocada e o rapaz pareceu ter percebido isso, sua expressão ficou ainda mais... preocupada? Isso mesmo? Impossível...
Naquele instante, algo magnífico aconteceu: eu olhei em seus olhos escuros e vi uma beleza pura e única, vi também _ pode acreditar _ sensibilidade. Eu mal podia crer. Eu pude ver sua alma, era tão bela ... tão cheia de vida e bodade. Ele era lindo, tanto por fora quando por dentro. Todo o meu tormento pela humanidade se fora. Ele era diferente, mesmo que fosse o único, ele era uma esperança, uma vela ardente em um mundo escuro e frio. "Agora estou", respondi. Ele sorriu. O sorriso mais sincero e poderoso que eu já vi. Uma esperança queimou dentro de mim. O acaso tem um senso de humor estranho. A beleza estava diante de mim, nem tudo está perdido. Ele era como eu e eu soube que poderiam existir outros. O bem atrai o bem, a gente só tem que aprender a reconhecer.



                            Valéria Mares

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