quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Me calo


Sempre me calo, ponho uma barreira automática nas minhas cordas vocais e fico ali, quietinha. Observo com tristeza o mundo girar, as pessoas mudarem, partirem, me deixarem. Continuo a mesma, valente por fora, pequena e frágil por dentro. Mas eles mudam, todos mudam. Eu mesma mudei, mas nunca perdi minha sensibilidade, nunca. Eu só me calo e deixo que os outros falem, rio comigo de suas palavras vazias, me divirto com suas promessas rasas. Se falo, não sou ouvida. Parece um daqueles pesadelos em que você grita por ajuda e ninguém te escuta porque a sua voz não sai. Faço piadas, brinco, faço rir. Mas aquela não sou eu. A verdadeira eu não consegue falar, é muda. Eu só escrevo. Escrever é minha tentativa desesperada de ser ouvida e compreendida, minha esperança de ter uma voz. Escrevo porque palavras ditas se vão com o vento, mas palavras escritas são eternas e eu gosto de tudo que dura para sempre.



                   Valéria Mares

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