quarta-feira, 27 de março de 2013

Solitário professor

O céu era de um azul profundo e inspirador, o cheiro de água salgada entrava por suas narinas enquanto ele caminhava. O mar ia e vinha, molhando seus pés doloridos e cansados. Sentou. Suspirou. Como é belo, pensou. Não se cansava de ver e admirar aquela imensidão azul poderosa. Lembrou-se da conversa que tivera com uma colega de trabalho na semana anterior.
"Estou preocupada contigo." Ela dissera corando.
"Como é?"
Vejo você sempre sozinho, parece cada vez mais solitário. Queria poder fazer algo..." Ela estava ainda mais vermelha.
Ela se importava com ele, parecia amá-lo. Mas ele não podia iludir ninguém. Ainda mais uma moça tão bondosa e bonita como ela. Ele era apenas um homem jovem com alma de velho que acostumou-se a viver sozinho em seu apartamento modesto que só continha em abundância os livros.
"Não se preocupe." Ele tentara sorrir. "Eu fico bem, sempre fico."
Ela balançara a cabeça, não parecendo convencida, e se fora.
Se fora.
Como todos.
Todos que ele deixou ir, que ele afastou intencionalmente ou não.


Ali, sentado à beira do mar, ele sentia todo o peso da solidão. Solidão que ele procurou por tanto tempo e, agora, corroía-o de dentro para fora.




Abraçou os joelhos procurando conforto. Não encontrou. Seus próprios sentimentos o sufocavam, o traíam. Encarou o mar, admirando-o mais uma vez. Sempre vinha vê-lo quando se sentia dessa forma. Mas hoje... Até o mar parecia empurrá-lo para seu abismo interior.
Levantou-se e começou a caminhar de volta para o seu modesto apartamento, continuar com sua modesta vida de solitário professor.





                                    Valéria Mares

Nenhum comentário:

Postar um comentário