quarta-feira, 27 de março de 2013

Uma noite fria de agosto

Era uma noite fria de agosto. Não se sabe ao certo como ela fora parar ali. O fato é: ela era uma menina e estava sozinha a vagar pela cidade numa noite fria de agosto. Sem quê, nem porquê, sem onde ou para onde. Sua mente era como uma TV mal sintonizada. Não via nem ouvia nada, não pensava nada, apenas caminhava pelas ruas mal iluminadas e sombrias da cidade.
Subitamente, ela riu. Uma risada histérica e incomum. Não achava graça em nada e não sabia porquê ria. Sentiu um fragmento de raciocínio em sua mente e questionou sua própria sanidade. Estava louca? Certamente. Rio de novo, cedendo à própria loucura.
Era estranho não pensar mas, ao mesmo tempo, era um alívio.
Lembrava-se de sentir muita dor no coração, de ter chorado muito. Por que havia chorado? Por que sentira dor? Aliás... Queria mesmo saber? Não. Não queria. Queria permanecer eternamente nesse estado de torpor anestésico insano. Era bom. Ela ria. E continuava a vagar pela cidade, absorvendo e esquecendo. Num ciclo confortável.





           Valéria Mares

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