domingo, 5 de abril de 2015

Medo morto

Morreu em mim naquela noite solitária. Morreu dentro da minha carne, dos meus ossos. Sangrou, tingindo do mais puro e lindo vermelho todo o meu corpo magro e branco. Matei-o com a adaga mais afiada, guardada virgem por anos de existência da minha alma. Penetrei-lhe com a lâmina até o líquido rubro espalhar-se graciosamente. Suspirei aliviada quando a morte o pegou sorrateira, levanto-o para o inferno, o tártaro, valhalla ou seja lá o que ele acreditava. Morreu meu medo naquela noite de outono, quando a lua de sangue iluminava o céu. Morreu meu medo quando descobri quem eu sou. Morreu meu medo com a adaga da verdade íntima do meu ser. Sangrou meu medo, banhando-me de prazer. Um prazer de ser pura e verdadeira, um prazer de medo morto.

                                                         Valéria  Mares

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